Acará - Além do Adeus
Quando acordei não via nada, meus olhos custaram a acostumar com a claridade. A última lembrança era de estar contigo Jaxi, ainda sentia a chuva gelada que encharcara meu corpo naquela noite fria, e a euforia de dançar com você uma última vez.
Ainda sem ver muita coisa: te chamei, busquei na sua voz o calor e o amor que sempre senti, que sempre transparece em tudo que você faz, e diz.
Quando finalmente meus olhos retomaram suas habilidades percebi o que realmente havia acontecido. Vi meus olhos sem vida. O choque de perceber que meu corpo já não mais continha o meu ser não veio como imaginei que viria, apenas observei enquanto a realidade da morte relativamente prematura se fez presente e permanente.
Meu corpo jazia ali, apenas um recipiente que tanto me serviu, me serviu para tocá-lo, para sentí-lo de todas as formas que pude. Fiquei triste por tê-lo perdido e por ter perdido a possibilidade de estar com você. Tão perto.
Foi quando uma luz intensa começou a brilhar e eu me voltei para a figura ao meu lado. Era você Jaxi, seu corpo ainda contendo vida reluzia intensamente, apesar de intensidade a luz não era dura, possuía a pureza a maciez da sua existência. E te senti, senti a sua paz o seu silêncio. A dor era visível também, aparecia como uma oscilação intensa. Mas eu sabia que não duraria muito, a vida para você continuaria e sua luz não deixaria de brilhar tão cedo.
Aprendi a existir aqui, neste lugar em que te vejo. Aprendi a sentir o calor da sua respiração me tornando o ar que respira, aprendi a tocar todos os lugares do teu corpo me tornando a água que te banha, aprendi a olhar diretamente nos seus olhos pegando-os emprestado por alguns segundos de qualquer criatura que te via.
A morte é como os sábios costumam dizer, é ser consumido pela terra e ela se tornar. E é incrível poder estar tão próximo de você Jaxi. Sei que a solidão por vezes te consome, e queria poder te dizer de todas as formas possíveis que eu estou aqui, que eu estou em todos os lugares te acompanhando, te sentindo, vivendo com você cada um dos seus ciclos.
O tempo aqui não passa como em Alterya, meu dia amanheceu quando saí do meu corpo... e não parece ter saído da alvorada desde então. Mas vejo os seus passando e tenho certeza que estarei lá, te tocando em forma de chuva quando o ar deixar seus pulmões pela última vez.
E nós nos reencontraremos Jaxi. E seremos novamente um só.
Enquanto isso... hoje, no dia em que Alterya inteira celebra, mesmo que sem saber. A sua chegada no mundo. Espero que sinta a paz que você me traz, a luz que você emana e o amor que tanto cresce.
Obrigado por existir, e por ter forças ao continuar existindo.
Sempre seu,
-Acará