O Nome do Tempo

manhã comum, ocupada, cansativa como as manhãs têm sido.

um amigo chega e me dou uns segundos para tirar o foco do trabalho. ultimamente tudo tem sido tão corrido que esses segundos de descontração são raros... e por vezes me forço a tê-los. mais para manter um resquício de sanidade mental (sendo bem honesto, esse barco já partiu faz tempo... o da sanidade)

ouço a história e a situação me parece comparável com algo que eu costumava te dizer. então conto minha anedota e termino com "é o que eu costumava dizer para ele... o..." e nada me vem a cabeça, nenhum nome, nem resquício de nome.

por um segundo minha mente colapsa totalmente e por mais que você esteja lá, você deixa de estar. 

naquela caixinha de memórias, seu nome em letras garrafais escrito com caneta piloto numa fita crepe barata sumiu.

- como era o nome dele? o nome... DELE!? - olho para o meu amigo gesticulando sem entender o que estava acontecendo - Eu esqueci o nome dele! - um sorriso se abre nos meus olhos... 

e lá vem ele, outro amigo que, diferente deste que me ajudava a diminuir o peso do dia, não me visitava faz meses e meses:

o alívio.

como foi bom não lembrar do seu nome.

doido demais né?

como é bom respirar fundo sem esse peso que impede os pulmões de inflarem totalmente.

e o melhor de tudo é que eu não esqueci de nada. mas é que tudo já está distante o suficiente pra perder definição, e sem definição os sentimentos perdem intensidade e eu posso sorrir pensando em momentos que me causavam tanta angústia.

eu sorri.

confesso que as lágrimas se formaram na sequência e me esforcei pra não perder controle delas... mas dessa vez não eram lágrimas de pesar, eram lágrimas de quem caminhou tanto e agora, depois de quilômetros e quilômetros de caminhos tortuosos, conseguiu descansar.

como foi bom esquecer seu nome, mesmo que por um momento.

o tempo realmente cura muita coisa.