Paul e o Farol Vermelho

O calor reinava, imponente e impiedoso me queimava a pele através do pára-brisa do carro, o chiado incessante do rádio era mascarado porcamente pelo ar condicionado ligado, que trabalhava muito mas não conseguia diminuir nem um grau do ar quente que dominava.

Vermelho como o sol estava o farol, a fileira de carros crescia atrás do meu, ao mesmo tempo que crescia a ansiedade pelo verde, pela liberdade de ir... minutos se comparavam às mais longas eras. O chiado do rádio me incomodava cada vez mais, assim como as gotículas de suor que se formavam na minha testa. Neste ponto o ar condicionado havia desistido do trabalho árduo, e as janelas laterais se abriram para fazer entrar a brisa inexistente.

Olhei para a esquerda na esperança de fazer o tempo passar mais rápido, e lá estava. Andando como se nada... vestido de preto da cabeça aos pés, porque all black estava na moda. O calor parecia não incomodá-lo como me incomodava, talvez os óculos escuros fossem o segredo, talvez a mente.

Mantive meu olhar fixo nele por alguns segundos, seguindo seus passos, torcendo para que seus olhos encontrassem os meus, e que meu sorriso fosse o suficiente para fazê-lo acenar, ou correr para meus braços, ambos preferencialmente.

O rubor do farol foi tomado por um verde brilhante, os carros seguiram, e eu segui junto de maneira forçada, o calor já não mais me incomodava. Me incomodava todo o resto.

Escrito em 21 de novembro de 2015