Paul e mais um fim

Eu estava lá, parado de frente aquela árvore misteriosa, as árvores pareciam ser parte da nossa relação. Esta tinha um tronco branco e curto... a árvore inteira devia ter de três a quatro metros de altura.

Fiquei lá por um tempo, tentando entender como flores gigantescas, de um rosa vivo, pendiam dos galhos daquela obra de arte. A brisa parecia não tocá-la, era como se o tempo deixasse de existir onde quer que sua sombra alcançasse.

Ouvi o som dos passos de Paul, pisoteando as folhas das árvores menos majestosas e igualmente importantes que cercavam aquele jardim.

- Nós precisamos conversar - Disse ele. Suspirei ao mesmo tempo em que um calafrio confirmava sensorialmente a tragédia anunciada.

- Você não quer mais continuar me vendo - Eu afirmei.

Uma das flores se desprendeu de um dos galhos mais altos da árvore, pintando de rosa o gramado verde logo abaixo, respirei fundo para conter as lágrimas, não podia parecer fraco porque precisava de força para o que viria a seguir.

Estendi minha mão buscando encontrar a dele, mesmo sem olhar... Paul exitou, mas a tocou. Tocá-lo era sempre um mix de sentimentos. Mas dessa vez a segurança e o amor usuais compartilhavam espaço com a secura de uma incerteza certa.

Olhei para ele, meu coração estava na garganta e as lágrimas contidas me faziam piscar um pouco mais do que eu gostaria... busquei seus olhos, sem sucesso... ele agora fitava a árvore, fugindo do meu rosto como sempre fazia quando não estava confortável com a situação.

Nada precisava ser dito, eu já havia notado o que estava acontecendo, mas mesmo assim conversamos por vários minutos, minha mente como sempre se perdia no meio do assunto... minha atenção era surrupiada pelos olhos dele, pelo cabelo, pelo jeito que ele falava. A maturidade de sua imaturidade era contagiante, a beleza de Paul era a sua inconstante e inconsistente consistência. Um ser de luz, uma incógnita.

Eu já sentia falta de tudo, de todo ele.

Paul me assustava, e eu sempre tentava manter a calma ao seu lado porque precisava fingir que conseguia lê-lo, mas era impossível. Sua mente funcionava em seis ou sete dimensões temporais diferentes. Paul é viajante, é sensível e sensitivo. Paul é sábio, me fez ver e crer coisas invisíveis e inacreditáveis.

Ao fim da conversa, conscientes e descontentes com nossa decisão de terminar as coisas: nos abraçamos. Minha visão já turva pela parede de lágrimas contidas não viu, mas meus ouvidos ouviram um obrigado singelo. E por um segundo eu não sabia como responder.

Eu...

Eu que tenho que agradecer, por ter me dado algo que eu recusava dar a mim mesmo por tanto tempo, por ter me deixado sentir, por ter me deixado ser e por estar tatuado na minha memória permanentemente como uma das pessoas mais incríveis a agraciarem minha existência.

Meu obrigado seguiu mas eu nunca conseguirei agradecer a Paul, porque as palavras me falham sempre ao descrever o quão grato estou... e esse é meu único arrependimento. Não ter tido palavras para agradecê-lo, porque por vezes agora que estou mais velho percebo que muitas palavras não existem.

O abraço cessou e olhei para baixo quando seus passos voltaram a triturar as folhas, cada vez mais distantes.

Uma lágrima pulou da barreira, meu peito ardia... ninguém nunca me disse que decisões corretas parecem ser tão absoluta e cruelmente erradas.

Não ouvi, não vi, não senti mais nada além do meu próprio coração quebrado, não por Paul, mas pela situação.

Quando tive forças para abrir os olhos, o luar que tanto nos observara juntos, agora me iluminava sozinho.

Me virei para a árvore.

Os galhos ainda estavam lá, agora o branco brilhava azulado, refletindo o luar acima.

As flores?

Todas no chão.