No primeiro dia

Acordei vinte para as seis da manhã, apesar do fuso diferente meu corpo se adaptou imediatamente e não perdeu a oportunidade de me avisar que estava pronto para o trabalho. Minhas pálpebras se afastaram os milímetros necessários para analisar o quarto, e meu peito se expandiu num breve porém profundo suspiro de alívio quando percebi que realmente estava longe de tudo.

Não havia necessidade de correr para me preparar para mais um dia, eu tinha todo o tempo do mundo para desfrutar daquele lugar estranho. E a paz desta constatação inundou cada centímetro do meu corpo, que de preguiça penetrava cada vez mais no colchão macio, dando um sentido nunca antes tão verdadeiro a palavra aconchego.

De um lado, a janela emoldurava uma paisagem histórica que num simples olhar trazia tantas perguntas; do outro, um corpo adornado por um lençol branco aproveitava os recém descobertos prazeres duma estranha cama de despreocupação.

Observei às duas paisagens por um par de horas que transcorreram em um segundo ou dois. O Sol iniciou sua subida ao mesmo tempo em que os olhos da companhia se abriram num silencioso bom dia acompanhado de um sorriso acanhado. O dia começou, mas se acabasse naquele momento... seria um dos melhores.