Demimonde


Penny estava num lugar desconhecido, o homem que a trouxera para tal lugar também não era um antigo amigo, tampouco um novo, não era amigo. Penny não mais se importava com a segurança de suas ações, apenas se importava com os resultados, consequências por sua mente também não passavam.

Vivia como mulher alguma vivera em seu tempo, havia visto muito mais que qualquer membro feminino da sociedade. Na verdade, para Penny havia somente uma mulher em seu mundo e ela só conseguia enxergá-la quando acendia uma vela e se olhava no espelho, somente ali, dentro da escuridão de seus olhos ela conseguia enxergar a feminilidade em sua forma mais pura, forma que não se manifestava em ninguém mais.

O homem parecia desinteressado por ela, o que despertou a curiosidade de nossa musa que de tão bela não entendia a rejeição, e nunca chegaria a entender. Ele a deixou no salão adornado por rostos emoldurados enquanto seguiu para o outro cômodo, não deu explicações mas Penny sabia que não deveria segui-lo.

Quando voltou trazia duas taças de vinho na mão, a roupa não era a mesma que usava antes, vestia agora um longo sobretudo de seda vermelha, Penny não prestou atenção em mais nada, o lugar não era propriamente iluminado e a moça se sentiu fragilizada quando, ao passar-lhe a taça, ele sorriu e a fuzilou com um olhar inesperado.

O olhar continuou enquanto o homem erguia a taça sugerindo um brinde, Penny seguiu sua deixa e sorriu quando ele retirou-lhe a taça da mão antes mesmo dela ter a chance de encostá-la em seus lábios. O homem estava inesperadamente calmo e Penny não conseguia formar um pensamento sequer em sua cabeça. Ele deixou as taças num aparador a direita da sala, enquanto Penny o seguia com um olhar, o corpo dele não era diferente do da vasta maioria dos homens que conhecera anteriormente, mas era diferente dos com a qual ela aceitava conhecer a casa, o que a chamava atenção certamente não era isso.

Quando ele se virou Penny já não mais usava seu corset, não que ele tenha notado que a peça jazia agora no chão de madeira da vasta sala. A moça perdia uma peça de roupa a cada passo que dava em direção ao olhar do homem, que sequer se desviou por um segundo do seu. Quando parou em frente a ele o único som que se podia ouvir era o de sua respiração, e a única coisa que a protegia era sua própria pele.

O homem desviou dela e se sentou na poltrona no meio da sala passando a olhar os rostos que o cercava, tempo depois voltou-se novamente para Penny, que admirava imóvel cada gesto que ele fazia. Olhou mais uma vez para os olhos negros e profundos da moça, que nunca estivera tão frágil e tão forte, admirou pela primeira vez seu corpo mas logo retornou ao olhar.

Saiu do salão em pouco tempo, deixando Penny, mas levando consigo o olhar negro da moça que desde então só consegue enxergar sua pura feminilidade refletida nos olhos negros do homem desconhecido, que nunca lhe foi amigo, mas que daquele dia em diante foi seu...