Borboletas Vermelhas


Ela não parecia estar feliz quando a vi sentada na beira da minha calçada, fui gentilmente perguntá-la se estava se sentindo bem. Me abaixei e toquei levemente seu ombro de pele clara como as nuvens, após se assustar levemente ela olhou para mim, estava sorrindo apesar da posição chorosa. Perguntei o que havia de errado e se a conhecia de algum lugar específico, ela disse que estava perdida.
Ao perguntar onde morava, para que pudesse levá-la até lá, ela disse: "Num jardim, com borboletas vermelhas como essas". Se despiu do pano preto em que se enrolava, nua, se virou e puxou os cabelos negros para frente me deixando ver sua tatuagem.
O desenho era belíssimo, linhas escuras contrastavam com sua pele branca e formavam um jardim com árvores e flores onde borboletas escarlate voavam livremente. O lugar não possuía início, fim, cercas ou luzes. As linhas de seu corpo emolduravam a obra de arte, como se um pertencesse ao outro numa perfeição tão grande que jurei ser sobrenatural.
Hesitei ao colocar sobre ela o pano negro que agora estava no chão, estava frio, mas seu corpo era tão perfeito e a imagem viva em suas costas me atraia de uma forma inimaginável.
Levei-a para dentro e pedi que tomasse um banho para se aquecer enquanto buscava algo quente para que pudesse vestir. Ouvi o barulho da água caindo quando abri o armário e peguei uma camisa e uma calça que havia comprado no dia anterior. Coloquei sobre a cama junto com uma par de meias e chinelos que igualmente, nunca haviam sido usados.
Estava na cozinha preparando um chá quando ela voltou, vestia apenas a camisa que nela parecia um vestido curto, estava descalça. "Desculpe, agradeço pela camisa mas não quero causar mais problemas", disse vindo em minha direção, eu não disse uma palavra, sua beleza me causava esta falta de reação. "Espere, deixe-me ajudá-lo" pegou a água quente do fogo e colocou nas xícaras já com os saquinhos.
Após alguns minutos estávamos conversando sentados ao sofá, não descobri nada sobre ela, não que não o quisesse, mas ela me impedia perguntando mais sobre minha vida.
Já era tarde quando ela me beijou, seus lábios eram pequenos e frágeis, seu beijo era doce e cheio de algo que nunca havia sentido antes.

Na manhã seguinte acordei e sorri ao lembrar dos acontecimentos da noite anterior. Antes de me virar imaginei-a deitada ao meu lado, dormindo calmamente , nua e deslumbrante. Quando o fiz, ela não estava lá, no seu lugar um envelope sentava-se sobre o travesseiro. Abri-o e peguei o pedaço de papel escrito com uma letra desenhada. Eis o que estava escrito:
"Obrigado por me ajudar a chegar ao meu jardim, espero que tenha feito o mesmo por você."
No momento em que lia a frase, um perfume carregado com flores, sons de pássaros e uma brisa refrescante  dominaram meus aposentos, e pela janela uma pequena borboleta escarlate voou e pousou por sobre o pano negro que, na noite anterior, cobriu a mulher que ainda amo.